Crônica (metafórica) de um combate anunciado*
Estava no fim do dia. No fim de uma sexta-feira. Eu andava como quem tem o dever cumprido, como quem cumpriu as cinco tarefas da semana; pra cada um dos dias, um objetivo, um gol alcançado. A rodada havia acabado, e eu estava feliz, muito feliz. Minha felicidade era maior do que saber que ainda havia uma rodada de fim de semana, que meu trabalho não acaba na sexta à noite. Mas eu estava com a sensação de dever cumprido, como se tudo tivesse acabado, como se eu fosse a sensação do campeonato.
Vinha andando distraída; tanta felicidade às vezes me distrai. Sabia onde queria chegar, mas me perdia em algumas ilusões do caminho, alguns pensamentos distantes, de metas muito maiores do que aquelas simples rodadas de trabalho. Minha torcida era maior, e precisava de algo maior que isso. Mas andava como quem sabia que estava no começo. Só no começo. E me distraía, perigosamente.
Foi então que eu o vi. E ele vinha em minha direção. Andar um pouco cambaleante, mas firme em minha direção. Não parecia ter outro lugar para ir. O andar era até um pouco gingado. Um pouco de malícia talvez? Mais experiência? Confiança? Não sei. Talvez.
Pensei em rapidamente atravessar a calçada. Fingir que não era comigo. Pensei, sim, em... fugir. Medo de apanhar no meio das rodadas? Medo de levar alguma surra em meio ao meu contentamento? Sabia que se isso acontecesse faria minha alegria cair por terra. Mas resolvi enfrentar. Pensei comigo: "Ele apenas vem em minha direção. Não posso fugir. E isso não significa que sou eu que vou apanhar dessa vez".
Então, enfrentei. Cara límpida, passo firme, continuei... Nossas distâncias diminuindo, e a ansiedade por nossa batalha apenas aumentando. Podia ouvir as vozes em minha cabeça, totalmente contrastantes de 'você vai mudar essa história' a 'você já sabe como será'. Pensei em titubear. Mas a essa altura já queria vencê-lo, a sede pela vitória era maior. Há muito tempo não o vencia. E sabia que nosso confronto era questão de tempo. Mais cedo ou mais tarde havia de acontecer entre as rodadas da vida. Mais cedo ou mais tarde, eu iria cruzar com ele na mesma calçada.
Então cruzei. Passei por ele. Aqueles segundos duraram uma eternidade, como se alguém tivesse dito 'câmera lenta, por favor'; nosso confronto já era atração, digna de 'luz, câmera, ação'. Em meio a tantas expectativas, das quais as piores eram as minhas próprias, a batalha encerrou-se. Foi difícil? Não. Mas quem venceu? Não sei... Posso dizer que não me senti mal. Não momentaneamente. Pois simplesmente não sei. Gostaria de saber como ele se sentiu. Só poderei saber, talvez, ao fim de mais uma rodada de trabalho, quando eu própria notificar minha alegria, ou minha desgraça.
Mas aí então eu soube que, entre nós, a tensão já é muito maior que o próprio resultado de nosso duelo. Os simbolismos também. As metáforas já se tornaram implícitas, explícitas, enfim, estão em todo lugar. A verdade é que um encontro tão simples, tão banal entre duas pessoas que caminham no meio da rua não teria sido uma batalha se... Se às vésperas de um clássico como esse, ele não estivesse em uma camisa vermelha e preta, listras de cima a baixo. E eu em uma camiseta apenas preta, símbolo do coração bem no meio do peito. Ele era São Paulo; eu, Corinthians. Só resta saber quem vence.
Vinha andando distraída; tanta felicidade às vezes me distrai. Sabia onde queria chegar, mas me perdia em algumas ilusões do caminho, alguns pensamentos distantes, de metas muito maiores do que aquelas simples rodadas de trabalho. Minha torcida era maior, e precisava de algo maior que isso. Mas andava como quem sabia que estava no começo. Só no começo. E me distraía, perigosamente.
Foi então que eu o vi. E ele vinha em minha direção. Andar um pouco cambaleante, mas firme em minha direção. Não parecia ter outro lugar para ir. O andar era até um pouco gingado. Um pouco de malícia talvez? Mais experiência? Confiança? Não sei. Talvez.
Pensei em rapidamente atravessar a calçada. Fingir que não era comigo. Pensei, sim, em... fugir. Medo de apanhar no meio das rodadas? Medo de levar alguma surra em meio ao meu contentamento? Sabia que se isso acontecesse faria minha alegria cair por terra. Mas resolvi enfrentar. Pensei comigo: "Ele apenas vem em minha direção. Não posso fugir. E isso não significa que sou eu que vou apanhar dessa vez".
Então, enfrentei. Cara límpida, passo firme, continuei... Nossas distâncias diminuindo, e a ansiedade por nossa batalha apenas aumentando. Podia ouvir as vozes em minha cabeça, totalmente contrastantes de 'você vai mudar essa história' a 'você já sabe como será'. Pensei em titubear. Mas a essa altura já queria vencê-lo, a sede pela vitória era maior. Há muito tempo não o vencia. E sabia que nosso confronto era questão de tempo. Mais cedo ou mais tarde havia de acontecer entre as rodadas da vida. Mais cedo ou mais tarde, eu iria cruzar com ele na mesma calçada.
Então cruzei. Passei por ele. Aqueles segundos duraram uma eternidade, como se alguém tivesse dito 'câmera lenta, por favor'; nosso confronto já era atração, digna de 'luz, câmera, ação'. Em meio a tantas expectativas, das quais as piores eram as minhas próprias, a batalha encerrou-se. Foi difícil? Não. Mas quem venceu? Não sei... Posso dizer que não me senti mal. Não momentaneamente. Pois simplesmente não sei. Gostaria de saber como ele se sentiu. Só poderei saber, talvez, ao fim de mais uma rodada de trabalho, quando eu própria notificar minha alegria, ou minha desgraça.
Mas aí então eu soube que, entre nós, a tensão já é muito maior que o próprio resultado de nosso duelo. Os simbolismos também. As metáforas já se tornaram implícitas, explícitas, enfim, estão em todo lugar. A verdade é que um encontro tão simples, tão banal entre duas pessoas que caminham no meio da rua não teria sido uma batalha se... Se às vésperas de um clássico como esse, ele não estivesse em uma camisa vermelha e preta, listras de cima a baixo. E eu em uma camiseta apenas preta, símbolo do coração bem no meio do peito. Ele era São Paulo; eu, Corinthians. Só resta saber quem vence.
*Inspirado em fatos reais
8 Comentários:
Lindo, Natália!!!!!!! Muito bom, mesmo... só Corinthianos pra perceber como é linda sua crônica.
Como foi 5 no Rio Claro ontem, q venha o São Paulo domingo... estou louco pra acabar com esses quase 4 anos sem vitórias! E a vitória vai merecer outra crônica...é bom ir começando!
Beijos!
Nossa Natalia, chapado. Ainda bem que eu li hoje, véspera do jogo. Se tivesse lido pós partida, não teria tanta graça e tanta surpresa.
Sem dúvidas será um grande clássico. Ainda que a freguesia já dure quase 4 anos. =)
bjãoo Nááá. Saudades.
Sobre o seu comentário no post do bbb... vc disse " se a gente não assiste as porcarias, como é que vai formar uma opinião bem fundamentada,". O problema é que em vários casos a gente já sabe que é ruim, como o bbb que já tá na vigésima edição!
Em se tratando de tv, qndo a qualidade da programação é boa a gente ve de cara, como a programação dos canais futura, por ex. mas nem isso dá pra fazer, pq os canais não chegam!
orraa
animal essa cronica ae...
mt boaaaa
espero q amanah o timao volte a mostar quem é o grande vencedro nesse jogo...digo jogo..pq classico pra mim é com o verdinho...
ja o tricolor..bom...um jogo...3 pontos..e só...
só rap ficar claro...nós ganhamos 15 jogos a mais q eles...e temos amis titulos dentro do panetone ( redondo e cheio d frutinhas), vulgo morumbi...que eles...
=)
Ná, VIAJEI nessa crônica... nossa, muito legal... e o fator surpresa no final, ainda! Mandou bem!
E bom, eu não gosto de futebol, mas ela serve de metáfora pra muitas situações da nossa vida... parabéns!
*
Quanto à música do meu post, ela é fodáxima, e tenho CERTEZA que vc vai amar (se eu gosto vc tb gosta heheh): chama Dakota, é de uma banda chamanda Stereophonics. Highly Recommended!
beijão e até logo ;)
MARAVILHA, LEGAL DEMAIS, TEXTO DE PRIMEIRA LINHA.
FIQUEI PRESO DO COMEÇO AO FIM, MUITO BOM MESMO.
PARABÉNS !!!!!!
COmo disse o Juca, deu a lógica no clássico. E quanto absurdo o Bernardo disse. Que dó.
Enfim, é sempre muito bom ganha do Timão. Uma pena que alguns perderam a cabeça, até o Roger, que dá gosto ver jogar. Ainda assim, eu gosto do Corinthians, embora possa não parecer!
bjo Ná.
Parabens minha menina.
Seu talento é indiscutivel, sua matéria de primeira. Não leio muitas cronicas mais sei enxergar onde há qualidade e estas são de gente que sabe o que faz e o quer da vida´.Seu futuro será brilhante siga nessa linha.Um livro de contos deve já ser iniciado pois com o passar do tempo virará Best Seller com certeza.Vovô pés no chão e não Coruja sem diz "Escute o que eu digo, que o eu digo não tem nos livros" Carlos Tamaio
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